terça-feira, 26 de março de 2013

A Aventura continua: Ásia, aqui estou eu!

Como já deverão ter lido no meu último post, já não me encontro a viver no Kuwait. A Vida está constantemente em movimento e nós fazemos parte integral dela. Neste sentido, deixei o Médio Oriente para embarcar numa nova experiência de Vida: descobrir o Sudeste Asiático! Para tal, iniciei um novo Blogue totalmente vocacionado para esta nova aventura. Tenho, assim, todo o gosto em convidar-vos a seguir a minha aventura pela Ásia de mochila às costa no Blogue:

Editado a 16 de Setembro de 2016
Neste momento o blog acima não existe devido a problemas no servidor Americado onde estava hospedado. Porém, criei um novo blog onde irei narrar a minha nova aventura pelo continente Americano! Sigam-me aqui:






Obrigado por tudo!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Portugueses no Kuwait

Para todas as pessoas que  têm como destino profissional o Kuwait, poderão entrar em contacto comigo para vos ajudar no que for preciso. Como poderão ler, vivi durante algum tempo no Kuwait e conheço vários Portugueses por aquelas terras. Neste sentido, escrevam um comentário neste Post a pedir algum suporte ou dica de sobrevivência ou enviem-me um e-mail para este endereço: tiagomyworld@gmail.com

Obrigado!


 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

17 meses de Vida no Médio Oriente - RESUMO GERAL IV



Orientação Sexual no Kuwait

Como foi possível verificar nos tópicos anteriores, a sexualidade vive-se de uma forma muito diferente neste país. Já deixei claro que todos os Kuwaitianos têm de se casar e constituir família com filhos. Este facto faz com que, independentemente da orientação sexual da pessoa em causa, o casamento tem de consumar-se (não há liberdade de escolha).
O Kuwait se não fosse um país Muçulmano e Árabe poderia considerar-se como um grande destino gay no Médio Oriente. Efectivamente existem muitos mais bi/homossexuais do que alguma pessoa poderia imaginar à partida! Claro, que a verdadeira orientação sexual é fortemente esmagada e torturada pela obrigatoriedade de constituir família. Consequentemente e como já vos falei, os casamentos não passam (grande parte deles) de uma Vida fantasiada para que a Sociedade os aceite como seres de pleno direito. De seguida, surge a Vida dupla em que a esposa tem o seu amante e o marido o seu namorado para que consiga libertar a sua verdadeira orientação sexual que o oprime. Atenção, como já sublinhei, há casamentos verdadeiros em que a fidelidade é o amor que os une; por outro lado, há homens com as suas amantes!
Uma das mulheres Europeias que conheci no Kuwait contou-me uma situação bastante caricata - que roça o inacreditável - que aconteceu verdadeiramente. Um dos Kuwaitianos com quem ela convivia (minimamente gay “assumido”), pediu-lhe uma espécie de favor: pediu-lhe para casar com ele. Ele precisava de casar com uma (qualquer) mulher para ser social e familiarmente aceite. Nitidamente o casamento não passaria de uma farsa que o libertava para a sua Vida afectiva e sexualmente verdadeira. Posso contar-vos que a mulher em questão não aceitou esta espécie de negócio. Contudo, acredito (opinião pessoal) que existam vários casamentos deste género em que eles ficam “libertos” para viver a sua sexualidade e elas, felizmente, tornam-se mulheres mais livres e independentes para viver a Vida à sua vontade (um verdadeiro negócio em que ambos saem a ganhar).
Pessoalmente, não me recordo de ter sido tão assediado como fui no Kuwait. Elas mais discretas mas a babarem-se na minha presença (algumas delas, é claro) e eles mais atrevidos e, por vezes, com uma verdadeira lata, como nos exemplos reais que vos conto de seguida:
1 - Era mais um dia normal de trabalho em que eu iniciara o turno da tarde. Durante um breve período em que os colegas da manhã terminaram o turno e os meus colegas da tarde vestiam o uniforme, ficara sozinho na loja (sem colegas e sem clientes). Ao fim de poucos segundos entre um homem na casa dos 40 anos, fala em Árabe ao qual respondi-lhe em Inglês. Ele, então, pergunta de onde sou (como é habitual acontecer). Ao responder que sou de Portugal, o homem começa a afirmar que tem amigos Portugueses e Brasileiros, aproximando-se de mim ao mesmo tempo (até aqui achei tudo normal). Logo de seguida e com uma enorme lata (!) perguntou-me a que horas saía do trabalho e quando estava de folga. Apercebendo-me da situação, afastei-me e respondi-lhe com cara de quem não estava interessado. Entretanto, entrou outro cliente na loja o que fez com que aquele esgueirasse pela saída com um "prazer em conhecê-lo".
2 - O provador de homem ficava mesmo em frente à porta do armazém da loja onde trabalhava. Estavam dois amigos (suponho) na loja, um a experimentar roupa e o outro a aguardar encostado ao armazém. Como precisei de dirigir-me ao armazém, pedi licença ao rapaz. Ele desviou-se, eu comecei a abrir a porta e, ao mesmo tempo, oiço "posso ir contigo?". Olhei para trás com cara de parvo e exclamei "Hum?!". Coitado do rapaz ficou todo embaraçado, dizendo "nada, nada, nada...". Quando regressei à loja, este já lá não estava…
3 - Durante semanas intermináveis, dirigia-se à loja um grupo de rapazes novos que raramente compravam algo. Com o passar do tempo os meus colegas Árabes disseram-me que um deles queria o meu número de telemóvel (ouvira-os a falar sobre este assunto). Apesar de tudo, ele nunca teve coragem de me fazer tal pedido (se o fizesse, não lho daria obviamente).
4 – Muitos outros exemplos…..


A Situação Mais Triste que Vivi no Kuwait

A Vida num "outro Mundo" faz com que tenhamos inúmeras histórias interessantes para contar (como já vos presenteei com algumas). Todavia, esta foi a situação que mais me tocou pelo facto de me ter deixado desarmado e sem possibilidade de fazer algo para ajudar na situação que se segue:
Um dos meus poucos amigos Kuwaitianos deixou de me falar durante umas semanas. Achei estranho pois não conseguiria vislumbrar nenhum sinal de Vida no Facebook ou em outras aplicações informáticas. Foi, então, que após várias mensagens enviadas sem resposta, recebo uma pelo Facebook da pessoa em questão. Resumidamente, o pai dele estava a obrigá-lo a casar! Fiquei em choque! "Como poderia um homem (neste caso, com 24 anos) ser obrigado a casar?" Foi mesmo o que se sucedeu... A mensagem que recebi tinha uma narração muito pesada. O rapaz ficou extremamente afectado com esta imposição sendo, consequentemente, acompanhado medicamente num dos hospitais psiquiátricos no Kuwait para minimizar o impacto negativo do capricho paternal. Ignorantemente impus-me contra tal situação - que o estava mesmo a matar aos poucos - com a argumentação que a Vida era dele e só ele é que saberia o que fazer com ela, que aquilo era contra os Direitos Humanos, etc... Nada deu resultado! Nem eu nem ninguém poderia fazer algo para contrariar aquela situação. Ele tinha mesmo de casar! Segundo o meu amigo, nunca mesmo nunca poderia contrariar o pai…
Digo-vos com sinceridade que esta situação deixou-me em estado de choque e com a sensação de ter voltado uns 200 anos atrás no tempo. Não pude fazer nada para ajudar o meu amigo e isto deixa-me triste... Neste momento, não sei se ele já terá casado. Se não o fez, irá fazê-lo em breve…
Liberdade, meus caros, é uma palavra que tem essência e utilidade em países como o nosso. Deveríamos agradecer a Deus (ou aos vossos pais se não têm uma ligação espiritual) por terem nascido num país como o nosso!


Ponto Final

Concluo esta saga sobre o resumo geral da minha Vida pelo Médio Oriente com duas frases que resumem uma possível caracterização perfeita do Kuwait:

- O Kuwait é um país muito rico, com carros de alta gama, arquitectura e infraestruturas modernas, mas com uma mentalidade velha, ultrapassada e presa no tempo.
- O Kuwait é um país do “Terceiro Mundo”, mas rico!

Estas frases não foram ditas por mim…

Que sejamos felizes e agradecidos com aquilo que temos! =D

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

17 meses de Vida no Médio Oriente - RESUMO GERAL III



Período do Ramadão

O Ramadão é um mês de extrema efervescência religiosa, como já deverão ter lido AQUI. Com a ignorância que me acompanhava, pensava que iria ser um período duro, extremista e de tristeza. Porém, enganei-me redondamente! Este foi o melhor período que vive no Kuwait!!! Ora vejamos: trabalhava unicamente 5 horas por dia (após o período de jejum, ou seja, à noite) o que permitia fazer aquilo que não me era possível em dias normais, como ir à piscina, à praia, jantar com amigos (Portugueses), conhecer algumas zonas do Kuwait, relaxar, etc. A questão de não poder ingerir nada durante o dia em locais públicos foi facilmente contornável e nenhum bicho-de-sete-cabeças! Se quiserem saber mais, leiam os Post dedicados a este tema!


Oração e Religiosidade

A maioria dos habitantes do Kuwait são Muçulmanos. Os que seguem esta religião com maior proximidade rezam, supostamente, cinco vezes ao dia. Verifico que alguns Kuwaitianos, principalmente os mais novos, já não seguem tão estritamente estas regras religiosas. Apesar de tudo e para terem noção de quão importante esta religião é para os Kuwaitianos e em conversa com um dos meus amigos locais sobre este tema, chegámos à conclusão que a religião é imposta a todos os cidadãos (independentemente da sua vontade pessoal), pois se algum elemento da família assumir-se como não-Muçulmano esta deixa automática e consequentemente de lhe falar, expulsando-o/a de casa.
Já por várias vezes falei sobre este tema aqui neste Blogue, mas não me canso de rever alguns pontos sobre esta religião. No que toca à oração, vou deixar-vos um exemplo verdadeiro e vivenciado por mim no meu local de trabalho. Após o chamamento para a Oração, um dos meus colegas iniciou o seu rito de oração (fê-lo no armazém da loja). Eu estava à conversa com um outro colega no mesmo espaço físico a perguntar como se dizia ‘roupa interior’ em Árabe, pois um cliente tinha-me pedido tal artigo. Quando o rapaz termina de orar, começou a responder à pergunta que eu tinha colocado entretanto (durante a oração, eles entram supostamente num momento de transe, ao qual não podemos interromper). Ora, conclusão do sucedido de acordo com a minha perspectiva: ele estava tão focado na sua oração e tão “conectado” com Deus que sabia tudo o que eu tinha falado durante aquele momento. Este é um exemplo claro que muitos rezam por obrigação e por «medo» de Deus e não por espiritualidade, essência e verdadeiro Amor por Deus.


Relacionamentos Amorosos

Este é um ponto muito complexo. Começo já por advertir que felizmente conheci alguns casos opostos ao que irei contar de seguida.
No Kuwait (e um pouco por todos os países Árabes) não existe o período de conquista, de descoberta, de aventura, de desilusão – por vezes – chamado de Namoro. Basicamente, quando algum Kuwaitiano pretende casar (sim, casar! Nada de namoros!), pede à família, normalmente à mãe, para iniciar a procura de noiva. Os requisitos são variados, mas costumam basear-se em pertencer a uma família com bom nome. De seguida, o homem escolhe uma noiva de entre o leque que a mãe lhe apresenta e, posteriormente, as famílias iniciam a  cerimónia de noivado e a preparação do casamento (a mulher não tem poder de decisão. Casa com o homem que a escolhe e ponto final!). Onde está o Amor no meio disto tudo?, deverão estar a questionar-se. Pois, segundo os Árabes, esse surge após o casamento… Caso não surja, há sempre soluções.
  1. O divórcio que é permitido no Islão (O Kuwait tem uma taxa de divórcio muito significativo [para não dizer elevado]); 
  2.  Ter uma relação extraconjugal. As mulheres casadas arranjam o/os seu/seus namorados (amantes) e eles a sua/o seu amante, verificando-se, assim, que o casamento serve para ter filhos e deixar as suas famílias felizes.
  3. Casar com uma segunda, terceira ou quarta mulher. No Kuwait, os homens podem casar com até quatro mulheres e ter filhos de qualquer uma delas.
  4. Matar o cônjuge! Ai, desculpem-me, esta não conta (piada negra).
Agora deixo-vos um exemplo real e triste que aconteceu com uma rapariga Europeia que conheço: ela namorava com um Kuwaitiano e eram minimamente felizes até ao dia em que ele terminou a relação. Motivo: a família impunha-o a celebrar um casamento tradicional com uma Kuwaitiana! Entre desiludir a família ou a namorada, a decisão foi fácil: numa desrespeitar a família! Existem, ainda, casamentos-“negócio” em que ele casa com uma mulher que esteja disponível para conseguir esconder a sua verdadeira orientação sexual (este assunto será abordado na próxima entrada deste Blogue).
Concluo reafirmando que estes casos dependem muito do tipo de família a que o Kuwaitiano provém (os tradicionais não têm opção de escolha) e que conheci casos em que eles namoravam ou eram casados com mulheres Europeias/Americanas (casos raros, é um facto…).

(Continua...)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

17 meses de Vida no Médio Oriente - RESUMO GERAL II


Construção de um Grupo de Portugueses

Foi no início do ano de 2012 que se iniciou a estruturação de um de grupo de Portugueses no Kuwait. O mentor deste projecto foi o Sérgio com a sua esposa Susana. Basicamente, a tomada de conhecimento dos Portugueses que viviam no Kuwait fez-se, sobretudo, do passa a palavra (pessoas de outras nacionalidades que, quando ficavam a saber da nacionalidade do Sérgio, afirmavam conhecer um ou outro Português a trabalhar em determinado local. De seguida, iniciava-se o processo de procura do Tuga in loco). Não obstante, este Blogue foi outra ferramenta preciosa para a descoberta de alguns Portugueses pelo Kuwait. Efectivamente, foi mesmo desta forma que tomei conhecimento do Sérgio e da Susana! Neste momento, já foi criado um Grupo no Facebook denominado de «Portugueses pelo Kuwait», um grupo no Whatsapp e realiza-se, todas as quintas-feiras, um jantar de Portugueses num restaurante a combinar todas as semanas. Confesso que, apesar de poucos elementos, o grupo de Portugueses que vivem no Kuwait é bastante unido, animado e psicologicamente muito precioso (são uma verdadeira família!). Esta pequena comunidade de Portugueses já foi, inclusive, elogiada pela Embaixada de Portugal presente nos Emirados Árabes Unidos (Abu Dabi). Bem hajam a todos e a todas!


Escravidão no Século XXI

Este pequeno subtítulo é forte e deixa muitas pessoas a olhar de lado e a pensar “a escravidão foi abolida há muitos anos”. Pois eu também gostava de afirmar o mesmo, mas uma espécie de escravidão ainda hoje atinge muitas pessoas por esse Mundo fora… Já no que toca ao Kuwait, esta é claramente visível. A grande maioria das famílias Kuwaitianas têm motoristas e empregadas provenientes do Bangladesh, Índia, Sri Lanka, Filipinas, etc… Estes funcionários estão abrangidos por um visto de residência que os prende literalmente à família que os contrata ao ponto de os limitar às ordens dos seus “donos”. Estas pessoas não podem sair de casa sem autorização da família Kuwaitiana, são mal pagas, trabalham a qualquer hora (vivem numa espécie de quarto existente na casa dos patrões), são violentadas física e sexualmente! Este visto de trabalho que os prende à família Kuwaitiana (impedindo-os de ir trabalhar para outro local/família), vem apontado nos Relatórios Anuais da ONU como um dos motivos de o Kuwait estar na lista de países violadores dos Direitos Humanos. Tenho de fazer este ponto de atenção: há famílias Kuwaitianas que não maltratam os seus empregados!


Amizade Kuwaitiana

Os Kuwaitianos têm uma visão da amizade muito distinta do Ocidente. Em regra, eles mantêm “amizade” com alguém, nomeadamente com Europeus ou Americanos, quando têm alguma segunda intenção associada. Infelizmente, conheci alguns nacionais que procuraram em mim tudo menos uma verdadeira amizade desinteressada. Posso contar-vos que um dos rapazes com quem pensei em iniciar amizade conseguiu enganar-me redondamente. Ele, sem uma sombra visível de homo/bissexualidade, teve a lata de me pedir um “favor”: ter relações sexuais com ele... Fiquei estúpido com tal pedido! Lá lhe expliquei a minha perspectiva sobre o Amor e o contacto sexual, mas, mesmo assim, continuou com o tal “pedido”, reforçando que os Europeus não têm problema algum em ter sexo com quem quer que seja (grande fama que nós, Europeus, temos…). Enfim, tive de me afastar deste “amigo”.
Já numa perspectiva oposta, conheci dois rapazes nos meus últimos meses de Vida no Kuwait. Com eles consegui efectivamente manter uma amizade verdadeira e desinteressada. Esta amizade permitiu-me sair do Kuwait com uma ideia mais positiva dos seus habitantes, verificando que, afinal, existem Kuwaitianos de bom coração!

(continua...)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

17 meses de Vida no Médio Oriente - RESUMO GERAL


Como vos tinha indicado em quatro posts anteriores, hoje vou iniciar o resumo da minha aventura pelo Kuwait. A sua narração estará dividida por temáticas que serão publicadas em três ou quatros dias distintos (não vos quero pôr a dormir com textos extensos!).

Hoje partilho-vos o início da minha aventura, a adaptação àquele novo Mundo e algumas diferenças substanciais entre o Ocidente e o Médio Oriente.


·       Início da Aventura

Em 2010 quando terminei o meu estágio profissional, iniciei a procura de outra ocupação profissional para puder suportar as despesas correntes da minha Vida em Lisboa. Foi então que consegui arranjar trabalho numa loja de roupa Portuguesa (entrei como reforço de Natal). Passados 6/7 meses de trabalho nesta empresa, recebi uma chamada do Director Comercial com uma nova proposta de trabalho: ir trabalhar na loja da mesma marca presente no Kuwait. Fiquei dividido. Por um lado, estava num relacionamento (mal ou bem lá nos íamos entendendo) e tinha a minha família e amigos em Portugal, por outro, esta era a oportunidade ideal de concretizar o meu sonho: sair de Portugal e ir conhecer o Mundo.
«Ok, podem contar comigo». Foi assim que se iniciou a Viagem que marcou e muito a minha Vida! Nos últimos dias de Agosto de 2011 já estava a voar em direcção ao Médio Oriente.


·         Adaptação e Decadência Psicológica

Quando cheguei ao Kuwait tudo era diferente: clima, paisagem, estilo de Vida, vestuário, responsabilidades no trabalho, etc…  A frase que mais usava quando os Kuwaitianos perguntavam a minha opinião sobre o Kuwait era: “estou a viver noutro Mundo” (apesar de a minha opinião ter mudado no decorrer da minha Vida naquele país).
Um outro grande ponto de adaptação a esta experiência de Vida foi passar a utilizar o Inglês como língua de comunicação com os habitantes daquele país e mesmo com os meus colegas de trabalho. Confesso que me surpreendi com a minha capacidade linguística! Muitas vezes, costumamos afirmar que não sabemos comunicar em Inglês ou noutras línguas estrangeiras, mas quando estamos perante a obrigação de as utilizar constantemente, o nosso cérebro vai buscar o conhecimento adquirido que está guardado na nossa memória e surpreendemo-nos! Claro que, com o dia-a-dia, vamos sempre aprendendo e aumentado ou corrigindo o nosso vocabulário.
A alimentação foi uma adaptação curiosa, pois a inexistência de carne de porco e derivados fez com que eu passasse a comer todos-os-dias frango. Sim, todos os dias! O picante ou a utilização mais acentuada de especiarias também foi uma constante na minha alimentação. Bem, muitos de vocês devem pensar que é impossível viver sem carne de porco. Confesso que consegue-se passar muito bem sem este animal. Claro que, por vezes, tinha saudades de comer uma bifana ou uma chouriça, mas é algo suportável…
Em termos psicólogos, vive a situação mais desafiante da minha Vida. Após sensivelmente três semanas depois da minha chegada ao Kuwait, o meu colega Português que geria a loja, teve que ausentar-se do país. Este facto fez com que eu – como subgerente de loja – assumisse tudo o se passava no nosso local de trabalho a todos os níveis: vendas, mercadoria, relatórios e outros documentos para a empresa, salários, resolução de alguns conflitos, comunicação constante com os escritórios da empresa que ficavam no Dubai, etc. Para agravar a situação, não tinha Vida social depois do trabalho, visto que estava há pouco tempo no Kuwait (ausência de amizades estabelecidas) e desconhecimento de Portugueses por aquelas terras… Esta situação perpectuou-se durante quase dois meses… Confesso que foi a situação psicológica mais desafiante de sempre! Entrei em depressão, perdi peso e estive próximo de desistir daquele trabalho. Aquando da (re)chegada do meu colega Português, as coisas começaram a melhorar. Todavia, o desgaste que aquele período me provocara, só me fazia pensar em férias para “desligar” durante uns tempos de tudo (algo que só se verificou três meses depois).


·         Choque Cultural

Ao viver “noutro Mundo” tudo (ou quase tudo) é diferente. Ainda me recordo da minha chegada ao aeroporto do Kuwait de madrugada e cansado das horas intermináveis de viagem, ver uma mulher de burca (só de olhos a descoberto) na zona de restauração que me deixou com tristeza e vontade de rir ao mesmo tempo… Ora, tinha colocado os meus pés há dois minutos em solo Kuwaitiano e as diferenças culturais (enormes diferenças) já se faziam sentir na minha atitude ignorante.
Os Kuwaitianos adoram comunicar com Europeus ou Americanos. Falam alegremente das suas férias à Europa (Espanha é o destino predilecto) ou dos tempos de estudante em Inglaterra ou EUA. Isto faz com que não sintamos o choque cultural com tanta agressividade, pois eles têm um estilo de Vida Árabe com toques Ocidentais.
Existem dois “tipos” de Kuwaitianos: os Bedus, provenientes do deserto (mais tradicionais) e os Hadvar, acostumados às lides do mar (mais liberais). Esta diferenciação vê-se claramente nas vestimentas das mulheres. As das famílias mais tradicionais vestem-se com Abaya ou, em regra, com burca. Os homens não lhes devem dirigir a palavra, olhar nos olhos e muito menos tocar-lhes! Claro que eu e o meu colega Tuga – enquanto Europeus – não nos regíamos por estes comportamentos culturais. Se tivéssemos de falar com elas, falávamos e ponto final sempre olhando-lhes nos olhos. Recordo-me num dos dias, uma mulher dirigir-se a mim para entregar a roupa que o marido iria comprar (ele estava no provador) e, sem querer, toquei-lhe nas mãos. A mulher rapidamente tira as mãos da roupa e afasta-se (como se algo de “nojento” tivesse acontecido). Digamos que eu também fiquei constrangido com a situação… Por sua vez, as mulheres das famílias mais liberais vestem roupas “normais” de grandes marcas (parece que vão para uma Gala dos Óscares em Hollywood) com lenço na cabeça ou mesmo com o cabelo a descoberto.

(continua...)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Viagem de regresso a Portugal


A minha primeira viagem de Portugal ao Kuwait fez-se pela Turkish Airlines. Durante as minhas férias sempre viajei pela KLM por ser mais barato em relação à concorrência. Curiosamente, a minha viagem de regresso a Portugal fez-se da mesma forma que aquando da minha ida para o Kuwait – no sentido inverso - como se estes voos, pela mesma companhia, simbolizassem o início e o fim de um ciclo.

A espera foi longa no Aeroporto do Kuwait. Felizmente tinha dois amigos a fazerem-me companhia e a ajudar-me a carregar as malas até ao ponto mais próximo do check-in.

Em ano e meio da minha estadia pelo Kuwait, consegui acumular tanto “lixo” que até a mim espantou. Sinceramente nunca pensei que fosse tão difícil colocar as minhas coisas em duas malas quando, na minha perspectiva, não haveria muito a trazer para Portugal (29 quilos será muito?!).

Já no avião, fiquei com uma opinião oposta à que tinha em relação à Turkish Airlines… Na minha primeira viagem de ida para o Kuwait, fiquei com uma impressão bastante positiva em relação a esta companhia aérea. Hoje desiludiram-me… As funcionárias não são simpáticas, não sabem o que é sorrir e não estão minimamente preocupadas com os passageiros. A única mais valia é serem fisicamente bonitas.

Quando estávamos prestes a aterrar, havia um intenso nevoeiro em Istambul. Cintos colocados, vibração para todo o lado e aterramos (confesso que a parte que mais gosto da viagem é a aterragem devido ao “desconhecido”, ao friozinho na barriga que nos dá). Fiquei de boca aberta sem reacção!!! O avião parou mesmo junto ao limite da pista! Será que ainda estava a dormir e a ter um pesadelo? Não, foi mesmo real! Mais alguns metros e sairíamos da pista...

Aqui sentado calmamente (e com os pés bem assentes no chão) no café “Maliya” no aeroporto de Istambul enquanto aguardo a viagem de ligação a Lisboa, verifico e confirmo que as Turcas que trabalham por aqui também não são simpáticas (será que apanhei com as pessoas erradas?!). De resto, o aeroporto tem uma dimensão média e instalações minimamente aceitáveis. Existem pessoas de todo o lado neste aeroporto, sobretudo Árabes (não será por acaso que a Turquia é um ponto que demarca a divisão do “Mundo Árabe” da Europa). As lojas aqui existentes e os cafés têm, na sua maioria, os preços em Euros. Este facto levou a questionar a mim próprio – com a sombra da ignorância a tocar-me – se na Turquia a moeda oficial seria o Euro. Enfim, mesmo sem Internet consegui colocar o cérebro a funcionar e concluir: “se a Turquia não faz parte da União Europeia também não desfruta obviamente da União Monetária” que tem feito furor nos mercados bolsistas nos últimos meses.


De regresso ao avião com destino a Lisboa, verifico que estranhamente há poucos Portugueses a bordo, mas muitos Turcos para turismo! Nunca me passou pela cabeça que a Capital Portuguesa fosse tão bem vista e falada pelos lados da Turquia (algo que é bastante positivo e digamos sinceramente: Lisboa é linda!).

A viagem foi afectada por alguma turbulência – o que torna a viagem menos monótona – e as hospedeiras (lindas outra vez) foram um pouco menos frias e antipáticas.

Posto isto, vamos fazer um parêntese e reflectir sobre esta companhia aérea: a Turkish Airlines. Em 2011 e 2012, esta empresa ganhou o prémio de Melhor Companhia Aérea da Europa. Acho este resultado no mínimo assustador… Isto significa que não há companhias aéreas melhores que a Turkish?! Se é este o significado, fico triste em sabê-lo… Porém e pelo meu conhecimento e experiência, posso garantir que a KLM é melhor no atendimento, nas condições a bordo e no cuidado com os passageiros. Mas se o prémio basear-se na alimentação e na beleza física das hospedeiras, o prémio vai, sem dúvida, para a Turkish Airlines…

Passadas 11 horas de viagem (sem falar das horas de espera pelas ligações) cheguei à minha cidade no Algarve. Muito pouco se modificou. Em termos familiares está tudo igual e a cidade está despida com várias lojas fechadas. A temperatura está baixa (ando cheio de frio!). Agora é tempo para descansar, reflectir sobre a minha Vida e organizar os Planos que pretendo colocar em prática em breve. Novas novidades estão à espreita? Ui, muitas…