sexta-feira, 31 de agosto de 2012

1º ano no Kuwait - Obrigado!

Foi no passado dia 29 de Agosto de 2011 que cheguei pela primeira vez ao Kuwait.  Fez entretanto um ano que vivo fora de Portugal!

Lembro-me como se ainda fosse hoje: assim que saí do avião e chego a uma pequena zona de restauração, vi umas senhoras vestidas todas de preto só com os olhos a descoberto. Este vislumbramento mexeu de imediatato com os meus sentimentos: não sabia se ficava de boca aberta ou se ria...

Hoje, passado este tempo todo, digo que foi e é uma grande experiência de Vida! Consegui fazer aquilo que a Humanidade tenta há várias décadas: viajar entre dois Mundos. Sim, para quem vive numa Europa onde a sociedade é livre (com Direitos e Deveres) ao chegar a uma país do Médio Oriente (tirando os países turísticos em que a cultura nativa é absorvida pelos estrangeiros em férias) chega efectivamente a um outro «Mundo»!

Agora deixo-vos alguns vídeos do Kuwait para que possam conhecer um pouco mais deste país banhado pelo ouro negro:





O vídeo que se segue serve para mostrar que nos países Árabes também se fazem Flashmob:



Obrigado por tudo!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

«Eid», Celebração do Fim do Jejum


No primeiro dia após o mês do Ramadão, os Muçulmanos entram num período de três dias de festa. Esta é chamada de «Eid-uf-Fitr» que significa, linearmente, Celebração do Fim do Jejum. Durante estes dias é obrigatório quebrar com o jejum vigente durante os últimos 29 ou 30 dias (de acordo com a duração do mês de Ramadão de cada ano).

Tradicionalmente, os Muçulmanos reúnem-se com as suas famílias na casa do parente mais velho onde alimentam-se com regalias gastronómicas características deste período e oferecem presentes às crianças e/ou familiares mais próximos. Para além desta reunião familiar, este é um período de oração específica (onde se agradece a Allah a força dada pelo sucesso do seu jejum religioso e toda a espiritualidade associada) e de doação de alimentos e/ou dinheiro às pessoas mais pobres. Digamos, resumidamente, que é semelhante às celebrações Católicas durante o dia de Natal (para as famílias Católicas que seguem a religião de forma intensa).


No que toca ao país onde vivo, verifica-se uma fuga em massa de Kuwaitianos para gozarem umas mini férias noutros países (já que são três dias sem trabalho/escola). Para os que cá ficam, resta-lhes irem aos centros comerciais ou andar de um lado para o outro de carro (conselho de sobrevivência: não sair de casa durante estes três dias após as 16 ou 17 da tarde para não correr o risco de ficar preso no trânsito horas a fio).

Em breve irei publicar a minha visão e experiência sobre o Ramadão e o Eid neste país!

Até breve!

sábado, 18 de agosto de 2012

Último dia do Ramadão: «histórias» que ficam


Com a chegada do Ramadão, inicia-se uma mudança bastante acentuada em vários campos da vida em sociedade. Durante aquele, é extremamente proibido comer, beber, fumar ou mascar pastilha em locais públicos. Para todas as pessoas provenientes de países não Muçulmanos (falo de países cujas culturas não são baseadas no Islamismo), entrar neste mês de imposição transforma-se numa verdadeira aventura.

Hoje, dedico este tópico a algumas situações que se passaram com os Portugueses que vivem no Kuwait durante o Ramadão.

Das poucas vezes que tínhamos de ir a algum lugar específico, durante o dia, onde levávamos inevitavelmente algum tempo, o que mais nos custava (a mim e ao meu colega de trabalho Tuga) era a sede. Recordo-me do dia em que fomos comprar as nossas viagens de férias. Após a viagem de casa aos escritórios da companhia área, mais a longa espera pela nossa vez, o meu colega já não se sentia necessariamente bem com a sede. Solução? Foi à casa de banho para arranjar alguma forma de saciar a sede. No meio disto tudo, havia uma fonte de água potável dentro da casa de banho onde foi possível beber água semi às escondidas. Ainda gostava de saber o que fazia uma fonte de água na casa de banho. Seria direccionava para as pessoas que não praticam o jejum religioso ou era habitual?!

Num dos dias em que estivemos nos escritórios do nosso Sponsor, a sede ataca de novo o meu colega Tuga. Assim como quem não quer a coisa, o meu colega pergunta-lhe de está a fazer jejum. O Sponsor arregaça uma manga e mostrando-nos uma tatuagem com uma cruz e afirma que é Católico! O meu colega perguntou-lhe, então, se poderia beber água. Bem, não se fez esperar por uma solução: encaminharam-nos para uma espécie de cozinha ao lado dos escritórios, verificaram de não haveriam pessoas à espreita - como se fossemos uns criminosos -, fecharam a porta e… água! O mais caricato foi termos visto perfeita para uma Mesquita ali ao lado.

Uma das situações mais “perigosas” que se passou connosco foi quando por volta das 17h30 (durante o jejum) fui com outros Tugas comprar algo para o nosso jantar (horário em que os Kuwaitis estão a comprar comida para alimentarem-se um pouco mais tarde no fim do jejum) e a rapariga Tuga decidiu comprar umas uvas. Como não sabíamos se as uvas eram doces, o que ela fez? Tirou um bago e provou… Continuamos as compras, pagamos e quando estávamos a sair do supermercado caiu-nos tudo! Tomamos consciência que ainda não se podia comer naquele horário… A sorte foi ninguém ter reparado ou simplesmente terem ignorado pelo facto de não sermos Árabes (mas não nos livraria da prisão...). Que sorte!

Outra história ocorreu com um casal Tuga recém-chegado ao Kuwait (sejam bem-vindos!). Estavam às compras e, ainda durante o período do jejum religioso, decidiram pedir ao funcionário uma azeitona para verificar se eram boas. O funcionário ficou com cara de parvo e simplesmente não lhes dirigiu qualquer tipo de resposta… Ao fim de uns minutos, os Tugas lembraram-se que ainda não se poderia comer, logo, era proibido provar fosse o que fosse naquele horário!

Apesar de um ou outro contratempo que resultava do nosso esquecimento em relação às regras do Ramadão por a realidade do nosso país de origem ser bastante dispare, conseguimos “sobreviver” às obrigações impostas por esta sociedade supostamente religiosa.

Assim, hoje, chegou ao fim o mês do Ramadão de 2012/1433. Agora seguem-se três dias de festa chamadas de «Eid» (que irei falar mais tarde).

Que venha o próximo Ramadão!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Ramadão: truques para "enganar" a sede!


O mês do Ramadão está quase a terminar. Como aconteceu no início deste mês, ainda não se sabe exactamente quando terminará. Mais uma vez, terá de se observar a lua. O início da Lua Nova simboliza o fim do presente mês (que decorrerá a 18 ou 19 de Agosto) e, consequentemente, o fim do Jejum religioso e o início de um período de festa chamada de “Eid”.

Aproveitando os últimos dias do mês do Ramadão e do seu jejum religioso associado, hoje venho dar-vos a conhecer alguns “truques” para reduzir a sede! Estes foram-me dados a conhecer por Muçulmanos que praticam o jejum (mais uma vez, não comer nem beber nada durante o dia) cuja veracidade científica não foi objecto de estudo!

Uma forma muito utilizada, em regra geral, consiste em bochechar com água (de preferência fresca) e expeli-la de seguida (os Muçulmanos que seguem [que têm de seguir] o jejum religioso podem colocar água na boca, por exemplo, podem lavar os dentes, desde que nunca engulam nada!).

Outra estratégia utilizada resume-se ao acto de tomar banho de água fria. Ora, aqui em pleno deserto o que não existe é água fria a sair das torneiras (por vezes a água está tão quente que torna-se difícil simplesmente lavar as mãos!). Porém, não poderei descartar a hipótese das pessoas em causa possuírem um sistema de refrigeração de água.

Por fim, um truque que me deitou a reflectir sobre até que ponto é “legal” fazê-lo: inspirar vapor de água! Sim, coloca-se uma panela de água a ferver e toca a snifar o vapor proveniente desse recipiente. O que me intriga: se eles não podem fumar, como poderão “fumar” vapor de água?! Eles lá saberão o motivo…

Como extra poderia colocar: beber água às escondidas. Sim, há quem o faça, mas esses são tudo menos Muçulmanos praticantes…

Em suma, existem algumas formas de “enganar” a sede utilizadas sobretudo nestes países onde as temperaturas chegam com facilidade aos 45º / 50º graus durante o Verão. Se são possíveis de reduzir a sensação de sede ou se estão cientificamente confirmadas, fica a dúvida no ar. Quem as quiser pôr em prática, força! Só peço que me transmitem o resultado posteriormente! Obrigado!

Até à próxima!

sábado, 11 de agosto de 2012

Ramadão: as noites de Salvação do Fogo do Inferno.


Passadas três semanas após o início do mês do Ramadão, chegamos ao período mais importante deste mês para os Muçulmanos praticantes: o “dia” em que Maomé recebeu os primeiros ensinamentos do Alcorão. Mas antes disto e como prometido, vou falar-vos primeiramente das pessoas que rompem com as regras impostas durante o presente mês religioso.

Independentemente da Religião seguida ou da Nacionalidade das pessoas que vivem no Kuwait, ninguém pode comer, beber ou fumar em locais públicos durante o tempo estabelecido para o jejum (neste momento inicia-se por volta das 3h25 até às 18h25). Apesar de todos os avisos e chamadas de atenção sobre este aspecto, li em notícias deste país que no primeiro dia do Ramadão um Indiano foi apanhado pela polícia a beber água em local público; mais recentemente um outro indivíduo foi abordado pela polícia enquanto fumava dentro do seu automóvel.

A punição para estes e outros prevaricadores resume-se a uma determinada coima (não consegui obter informação sobre o valor) e a prisão imediata dessa pessoa até ao final do mês do Ramadão (uma coisa é certa, se não respeitam o jejum em liberdade têm de o cumprir em prisão e, neste caso, já nada tem a ver com Religião!).

Apesar de um ou outro contratempo em relação ao cumprimento das regras durante o Ramadão que os estrangeiros poderão por momentos esquecer-se, a demanda religiosa dos Muçulmanos nunca pode parar!

Os últimos 10 dias do mês do Ramadão são os mais importantes durante todo este período de efervescência religiosa. Segundo a sua narração religiosa, o profeta Maomé costumava retirar-se para orar e meditar num dos montes junto de Meca. Foi, então, num desses retiros espirituais numa das grutas do Monte Hira, Maomé fora visitado pelo Anjo Gabriel [Fonte] que lhe transmitiu as primeiras mensagens da palavra de Deus:

«Chegado aos 40 anos de idade, Muhammad [Maomé], começa a receber a mensagem da palavra de Deus, por intermédio do Arcanjo Gabriel (Jibrail), na cava de Hira, perto de Meca.
Muhammad envolto numa manta, em silenciosa vigília nocturna, ouve uma voz que o chama; descobrindo a cabeça, um jacto de luz incide sobre ele, com tão intolerável esplendor, que o faz desmaiar. Ao voltar a si, Muhammad vê um anjo de forma humana, que aproximando-se dele lhe mostra um pano prateado coberto de caracteres.
- Lê! Diz-lhe o anjo.
- Não sei ler! Replica Muhammad.
- Lê em nome de Deus! Repete o anjo.
No mesmo instante, o Profeta sentiu que uma luz celestial lhe iluminava o entendimento e leu o que ali estava escrito: “ Ó Muhammad, em verdade és o Profeta de Deus! E eu ou o Anjo Gabriel” (Jibrail).
A partir de então, o Mensageiro Sagrado continuou a receber sucessivamente, durante o período de vinte e três anos (entre os anos 609 e 632 D.C.) as revelações da palavra de Deus, que depois foram compiladas no Alcorão.» [Fonte]

Revelação do Alcorão ao profeta Maomé pelo anjo Gabriel.

Este últimos 10 dias de Ramadão são chamados como “as noites de Salvação do Fogo do Inferno” [Fonte]. Durante este período, os Muçulmanos intensificam (ainda mais) as suas orações através da recitação de recordações de Allah, leitura do Alcorão e suplicação do perdão de Allah. Estas submissão religião tem como finalidade o perdão de todos os pecados cometidos pelos Muçulmanos (de cariz pessoal, ou seja, cada um pede o perdão dos seus próprios pecados) e pela recompensa de 1000 meses de Adoração ( «Uma oração nessa noite é melhor do que 84 anos de adoração, porque talvez você adore a Allah durante 84 anos sem sentir realmente Allah no seu coração. Mas talvez nessa noite você faça tudo aquilo que você não faria em 84 anos, na busca da Satisfação e do Perdão de Allah. Então essa noite é melhor para ti do que 84 anos. Se você adorar a Allah verdadeiramente como Ele merece ser adorado, se humilhando perante Ele e suplicando a Ele será melhor para você do que 1000» [Fonte]).

Não contradizendo esta informação, os últimos dias do Ramadão - por aquilo que vejo - são momentos em que o consumismo dispara em flecha! Durante as primeiras duas/três semanas deste mês, vêem-se poucas pessoas na rua e em zonas comerciais. Neste momento em que vivemos "as noites de Salvação do Fogo do Inferno" os centros comerciais estão muito mais movimentados por Kuwaitianos carregados com sacos de compras. Não seria suposto estarem nas Mesquitas a pedir perdão a Allah? Em conversa com um amigo que segue a religião à risca e colocando-lhe esta questão, a resposta que obtive foi: «são opções».

Opções ou não, o Mundo está mesmo em mudança! Eu diria mesmo que a diminuição da intensidade religiosa (seja qual for a Religião) é uma evolução natural. Basta, neste sentido, olharmos para os Católicos Portugueses de há uns cem anos atrás e para os supostos Católicos actuais. Estes dizem-se Católicos mas depois não cumprem com qualquer tipo de obrigação religiosa e os pecados ("mortais") são ferramentas por (alguns) deles utilizadas diariamente.

Até breve!
 


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

À conquista do deserto Kuwaitiano!


Durante o mês do Ramadão, todos os trabalhadores do Kuwait têm o horário de trabalho reduzido. Este tempo livre permitiu-me fazer algo que me importunava há algum tempo: ver camelos no seu meio natural e ir ao deserto.

O Kuwait é um dos países Árabes cujo horário de trabalho, durante o presente mês do Ramadão, é limitado a um máximo de 6 horas por dia. Este facto faz com que eu tenha mais tempo disponível para explorar verdadeiramente o Kuwait.

Há uns dias, decidi aventurar-me com alguns dos meus amigos Tugas por “terras nunca antes percorridas”. Qual era o objectivo inicial? Ir até junto ao Iraque. Esta intenção não passou disso mesmo, pois o mais próximo que poderíamos estar do Iraque seria por esta imagem (um toque de sarcasmo por parte de um dos Tugas):


Depois de percorrermos quilómetros e quilómetros numa autoestrada rodeada por um deserto interminável (finalmente estava no deserto!), decidimos desviar a nossa rota e aventurarmo-nos por um dos (poucos) desvios dessa via rápida. Andamos um pouco até que avistámos camelos ao longe. Este avistamento longínquo já me tinha saciado a vontade de ver camelos no deserto, porém eis que…




... havia alguns camelos mesmo junto da estrada a vasculhar o lixo. Aproximamo-nos deles com algum receio (estes camelos andam literalmente à solta; os donos vivem em tendas montadas no meio do nada [ou será no meio de tudo, na perspectiva destes nómadas?!]) e uma das Tugas decidiu sair do carro para tirar umas fotografias junto dos bichos. Bem, como os animais estavam entretidos a comer aquilo a que chamamos de lixo, conseguimos tirar umas fotografias de verdadeiros aventureiros! Quando chegou a minha vez de ser alvo da óptica do telemóvel, eis que um dos camelos decidiu aproximar-se de nós! Digamos que me ia borrando de medo (desculpem-me as palavras)!!!

Seguindo a nossa viagem, desta vez junto do mar, encontramos camelos mais claros (não sabia que havia camelos desta cor…).




Retomamos, posteriormente, o nosso rumo até que decidimos voltar para trás devido à enorme distância que ainda se avizinhava até ao Iraque…

Principal impressão desta aventura: o Kuwait é muito maior do que alguma vez tinha calculado. Passei todos estes meses (já por aqui ando há 11 meses!) dentro da zona habitada e desconhecia, por completo, este imenso deserto à espera de ser conquistado pelo betão.

Ficam aqui mais algumas imagens, desta vez, do deserto:





 Até à próxima aventura!