Passadas três semanas após o início do mês do Ramadão,
chegamos ao período mais importante deste mês para os Muçulmanos praticantes: o
“dia” em que Maomé recebeu os primeiros ensinamentos do Alcorão. Mas antes
disto e como prometido, vou falar-vos primeiramente das pessoas que rompem com as regras
impostas durante o presente mês religioso.
Independentemente da Religião seguida ou da Nacionalidade
das pessoas que vivem no Kuwait, ninguém pode comer, beber ou fumar em locais
públicos durante o tempo estabelecido para o jejum (neste momento inicia-se por
volta das 3h25 até às 18h25). Apesar de todos os avisos e chamadas de atenção
sobre este aspecto, li em notícias deste país que no primeiro dia do Ramadão um
Indiano foi apanhado pela polícia a beber água em local público; mais recentemente
um outro indivíduo foi abordado pela polícia enquanto fumava dentro do seu
automóvel.
A punição para estes e outros prevaricadores resume-se a uma
determinada coima (não consegui obter informação sobre o valor) e a prisão
imediata dessa pessoa até ao final do mês do Ramadão (uma coisa é certa, se não
respeitam o jejum em liberdade têm de o cumprir em prisão e, neste caso, já
nada tem a ver com Religião!).
Apesar de um ou outro contratempo em relação ao cumprimento das regras
durante o Ramadão que os estrangeiros poderão por momentos esquecer-se, a demanda religiosa dos Muçulmanos
nunca pode parar!
Os últimos 10 dias do mês do Ramadão são os mais importantes
durante todo este período de efervescência religiosa. Segundo a sua narração religiosa,
o profeta Maomé costumava retirar-se para orar e meditar num dos montes junto
de Meca. Foi, então, num desses retiros espirituais numa das grutas do Monte
Hira, Maomé fora visitado pelo Anjo Gabriel
[Fonte]
que lhe transmitiu as primeiras mensagens da palavra de Deus:
«Chegado aos 40 anos de idade, Muhammad [Maomé], começa a
receber a mensagem da palavra de Deus, por intermédio do Arcanjo Gabriel
(Jibrail), na cava de Hira, perto de Meca.
Muhammad envolto numa manta, em silenciosa vigília nocturna,
ouve uma voz que o chama; descobrindo a cabeça, um jacto de luz incide sobre
ele, com tão intolerável esplendor, que o faz desmaiar. Ao voltar a si,
Muhammad vê um anjo de forma humana, que aproximando-se dele lhe mostra um pano
prateado coberto de caracteres.
- Lê! Diz-lhe o anjo.
- Não sei ler! Replica Muhammad.
- Lê em nome de Deus! Repete o anjo.
No mesmo instante, o Profeta sentiu que uma luz celestial
lhe iluminava o entendimento e leu o que ali estava escrito: “ Ó Muhammad, em
verdade és o Profeta de Deus! E eu ou o Anjo Gabriel” (Jibrail).
A partir de então, o Mensageiro Sagrado continuou a receber
sucessivamente, durante o período de vinte e três anos (entre os anos 609 e 632
D.C.) as revelações da palavra de Deus, que depois foram compiladas no Alcorão.» [Fonte]
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Revelação do Alcorão ao profeta Maomé pelo anjo Gabriel. |
Este últimos 10 dias de Ramadão são chamados como
“as noites
de Salvação do Fogo do Inferno” [Fonte]. Durante este período, os Muçulmanos intensificam (ainda mais) as suas orações
através da recitação de recordações de Allah, leitura do Alcorão e suplicação do
perdão de Allah. Estas submissão religião tem como finalidade o perdão de todos
os pecados cometidos pelos Muçulmanos (de cariz pessoal, ou seja, cada um pede
o perdão dos seus próprios pecados) e pela recompensa de 1000 meses de Adoração
(
«Uma oração nessa noite é melhor do que 84 anos de adoração, porque talvez
você adore a Allah durante 84 anos sem sentir realmente Allah no seu coração.
Mas talvez nessa noite você faça tudo aquilo que você não faria em 84 anos, na
busca da Satisfação e do Perdão de Allah. Então essa noite é
melhor para ti do que 84 anos. Se você adorar a Allah verdadeiramente como Ele
merece ser adorado, se humilhando perante Ele e suplicando a Ele
será melhor para você do que 1000» [Fonte]).
Não contradizendo esta informação, os últimos dias do Ramadão - por aquilo que vejo - são momentos em que o consumismo dispara em flecha! Durante as primeiras duas/três semanas deste mês, vêem-se poucas pessoas na rua e em zonas comerciais. Neste momento em que vivemos "as noites de Salvação do Fogo do Inferno" os centros comerciais estão muito mais movimentados por Kuwaitianos carregados com sacos de compras. Não seria suposto estarem nas Mesquitas a pedir perdão a Allah? Em conversa com um amigo que segue a religião à risca e colocando-lhe esta questão, a resposta que obtive foi: «são opções».
Opções ou não, o Mundo está mesmo em mudança! Eu diria mesmo que a diminuição da intensidade religiosa (seja qual for a Religião) é uma evolução natural. Basta, neste sentido, olharmos para os Católicos Portugueses de há uns cem anos atrás e para os supostos Católicos actuais. Estes dizem-se Católicos mas depois não cumprem com qualquer tipo de obrigação religiosa e os pecados ("mortais") são ferramentas por (alguns) deles utilizadas diariamente.
Até breve!