Como vos tinha indicado em quatro posts anteriores, hoje vou iniciar o resumo da minha aventura pelo
Kuwait. A sua narração estará dividida por temáticas que serão publicadas em
três ou quatros dias distintos (não vos quero pôr a dormir com textos extensos!).
Hoje partilho-vos o início da minha aventura, a adaptação
àquele novo Mundo e algumas diferenças
substanciais entre o Ocidente e o Médio Oriente.
· Início da
Aventura
Em 2010 quando terminei o meu estágio profissional, iniciei
a procura de outra ocupação profissional para puder suportar as despesas
correntes da minha Vida em Lisboa. Foi então que consegui arranjar trabalho
numa loja de roupa Portuguesa (entrei como reforço de Natal). Passados 6/7
meses de trabalho nesta empresa, recebi uma chamada do Director Comercial com uma nova proposta de trabalho: ir trabalhar na loja da mesma marca
presente no Kuwait. Fiquei dividido. Por um lado, estava num relacionamento
(mal ou bem lá nos íamos entendendo) e tinha a minha família e amigos em
Portugal, por outro, esta era a oportunidade ideal de concretizar o meu sonho:
sair de Portugal e ir conhecer o Mundo.
«Ok, podem contar comigo». Foi assim que se iniciou a Viagem
que marcou e muito a minha Vida! Nos últimos dias de Agosto de 2011 já estava a voar em
direcção ao Médio Oriente.
·
Adaptação
e Decadência Psicológica
Quando cheguei ao Kuwait tudo era diferente: clima,
paisagem, estilo de Vida, vestuário, responsabilidades no trabalho, etc… A frase que mais usava quando os Kuwaitianos
perguntavam a minha opinião sobre o Kuwait era: “estou a viver noutro Mundo” (apesar de a minha opinião
ter mudado no decorrer da minha Vida naquele país).
Um outro grande ponto de adaptação a esta experiência de
Vida foi passar a utilizar o Inglês como língua de comunicação com os
habitantes daquele país e mesmo com os meus colegas de trabalho. Confesso que
me surpreendi com a minha capacidade linguística! Muitas vezes, costumamos
afirmar que não sabemos comunicar em Inglês ou noutras línguas estrangeiras, mas
quando estamos perante a obrigação de as utilizar constantemente, o nosso
cérebro vai buscar o conhecimento adquirido que está guardado na nossa memória
e surpreendemo-nos! Claro que, com o dia-a-dia, vamos sempre aprendendo e
aumentado ou corrigindo o nosso vocabulário.
A alimentação foi uma adaptação curiosa, pois a inexistência
de carne de porco e derivados fez com que eu passasse a comer todos-os-dias frango. Sim, todos os
dias! O picante ou a utilização mais acentuada de especiarias também foi uma
constante na minha alimentação. Bem, muitos de vocês devem pensar que é
impossível viver sem carne de porco. Confesso que consegue-se passar muito bem
sem este animal. Claro que, por vezes, tinha saudades de comer uma bifana ou
uma chouriça, mas é algo suportável…
Em termos psicólogos, vive a situação mais desafiante da
minha Vida. Após sensivelmente três semanas depois da minha chegada ao Kuwait,
o meu colega Português que geria a loja, teve que ausentar-se do país. Este
facto fez com que eu – como subgerente de loja – assumisse tudo o se passava no
nosso local de trabalho a todos os níveis: vendas, mercadoria, relatórios e
outros documentos para a empresa, salários, resolução de alguns conflitos,
comunicação constante com os escritórios da empresa que ficavam no Dubai, etc.
Para agravar a situação, não tinha Vida social depois do trabalho, visto que estava
há pouco tempo no Kuwait (ausência de amizades estabelecidas) e desconhecimento
de Portugueses por aquelas terras… Esta situação perpectuou-se durante quase
dois meses… Confesso que foi a situação psicológica mais desafiante de sempre!
Entrei em depressão, perdi peso e estive próximo de desistir daquele trabalho.
Aquando da (re)chegada do meu colega Português, as coisas começaram a melhorar.
Todavia, o desgaste que aquele período me provocara, só me fazia pensar em
férias para “desligar” durante uns tempos de tudo (algo que só se verificou
três meses depois).
·
Choque Cultural
Ao viver “noutro Mundo” tudo (ou quase tudo) é diferente.
Ainda me recordo da minha chegada ao aeroporto do Kuwait de madrugada e cansado
das horas intermináveis de viagem, ver uma mulher de burca (só de olhos a
descoberto) na zona de restauração que me deixou com tristeza e vontade de rir
ao mesmo tempo… Ora, tinha colocado os meus pés há dois minutos em solo
Kuwaitiano e as diferenças culturais (enormes diferenças) já se faziam sentir
na minha atitude ignorante.
Os Kuwaitianos adoram comunicar com Europeus ou Americanos.
Falam alegremente das suas férias à Europa (Espanha é o destino predilecto) ou
dos tempos de estudante em Inglaterra ou EUA. Isto faz com que não sintamos o choque cultural com tanta agressividade,
pois eles têm um estilo de Vida Árabe com toques Ocidentais.
Existem dois “tipos” de Kuwaitianos: os Bedus, provenientes do
deserto (mais tradicionais) e os Hadvar, acostumados às lides do mar
(mais liberais). Esta diferenciação vê-se claramente nas vestimentas das
mulheres. As das famílias mais tradicionais vestem-se com Abaya ou, em regra, com burca.
Os homens não lhes devem dirigir a palavra, olhar nos olhos e muito menos
tocar-lhes! Claro que eu e o meu colega Tuga – enquanto Europeus – não nos
regíamos por estes comportamentos culturais. Se tivéssemos de falar com elas,
falávamos e ponto final sempre olhando-lhes nos olhos. Recordo-me num dos dias,
uma mulher dirigir-se a mim para entregar a roupa que o marido iria comprar
(ele estava no provador) e, sem querer, toquei-lhe nas mãos. A mulher
rapidamente tira as mãos da roupa e afasta-se (como se algo de “nojento”
tivesse acontecido). Digamos que eu também fiquei constrangido com a situação…
Por sua vez, as mulheres das famílias mais liberais vestem roupas “normais” de
grandes marcas (parece que vão para uma Gala dos Óscares em Hollywood) com
lenço na cabeça ou mesmo com o cabelo a descoberto.
(continua...)
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