quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

17 meses de Vida no Médio Oriente - RESUMO GERAL


Como vos tinha indicado em quatro posts anteriores, hoje vou iniciar o resumo da minha aventura pelo Kuwait. A sua narração estará dividida por temáticas que serão publicadas em três ou quatros dias distintos (não vos quero pôr a dormir com textos extensos!).

Hoje partilho-vos o início da minha aventura, a adaptação àquele novo Mundo e algumas diferenças substanciais entre o Ocidente e o Médio Oriente.


·       Início da Aventura

Em 2010 quando terminei o meu estágio profissional, iniciei a procura de outra ocupação profissional para puder suportar as despesas correntes da minha Vida em Lisboa. Foi então que consegui arranjar trabalho numa loja de roupa Portuguesa (entrei como reforço de Natal). Passados 6/7 meses de trabalho nesta empresa, recebi uma chamada do Director Comercial com uma nova proposta de trabalho: ir trabalhar na loja da mesma marca presente no Kuwait. Fiquei dividido. Por um lado, estava num relacionamento (mal ou bem lá nos íamos entendendo) e tinha a minha família e amigos em Portugal, por outro, esta era a oportunidade ideal de concretizar o meu sonho: sair de Portugal e ir conhecer o Mundo.
«Ok, podem contar comigo». Foi assim que se iniciou a Viagem que marcou e muito a minha Vida! Nos últimos dias de Agosto de 2011 já estava a voar em direcção ao Médio Oriente.


·         Adaptação e Decadência Psicológica

Quando cheguei ao Kuwait tudo era diferente: clima, paisagem, estilo de Vida, vestuário, responsabilidades no trabalho, etc…  A frase que mais usava quando os Kuwaitianos perguntavam a minha opinião sobre o Kuwait era: “estou a viver noutro Mundo” (apesar de a minha opinião ter mudado no decorrer da minha Vida naquele país).
Um outro grande ponto de adaptação a esta experiência de Vida foi passar a utilizar o Inglês como língua de comunicação com os habitantes daquele país e mesmo com os meus colegas de trabalho. Confesso que me surpreendi com a minha capacidade linguística! Muitas vezes, costumamos afirmar que não sabemos comunicar em Inglês ou noutras línguas estrangeiras, mas quando estamos perante a obrigação de as utilizar constantemente, o nosso cérebro vai buscar o conhecimento adquirido que está guardado na nossa memória e surpreendemo-nos! Claro que, com o dia-a-dia, vamos sempre aprendendo e aumentado ou corrigindo o nosso vocabulário.
A alimentação foi uma adaptação curiosa, pois a inexistência de carne de porco e derivados fez com que eu passasse a comer todos-os-dias frango. Sim, todos os dias! O picante ou a utilização mais acentuada de especiarias também foi uma constante na minha alimentação. Bem, muitos de vocês devem pensar que é impossível viver sem carne de porco. Confesso que consegue-se passar muito bem sem este animal. Claro que, por vezes, tinha saudades de comer uma bifana ou uma chouriça, mas é algo suportável…
Em termos psicólogos, vive a situação mais desafiante da minha Vida. Após sensivelmente três semanas depois da minha chegada ao Kuwait, o meu colega Português que geria a loja, teve que ausentar-se do país. Este facto fez com que eu – como subgerente de loja – assumisse tudo o se passava no nosso local de trabalho a todos os níveis: vendas, mercadoria, relatórios e outros documentos para a empresa, salários, resolução de alguns conflitos, comunicação constante com os escritórios da empresa que ficavam no Dubai, etc. Para agravar a situação, não tinha Vida social depois do trabalho, visto que estava há pouco tempo no Kuwait (ausência de amizades estabelecidas) e desconhecimento de Portugueses por aquelas terras… Esta situação perpectuou-se durante quase dois meses… Confesso que foi a situação psicológica mais desafiante de sempre! Entrei em depressão, perdi peso e estive próximo de desistir daquele trabalho. Aquando da (re)chegada do meu colega Português, as coisas começaram a melhorar. Todavia, o desgaste que aquele período me provocara, só me fazia pensar em férias para “desligar” durante uns tempos de tudo (algo que só se verificou três meses depois).


·         Choque Cultural

Ao viver “noutro Mundo” tudo (ou quase tudo) é diferente. Ainda me recordo da minha chegada ao aeroporto do Kuwait de madrugada e cansado das horas intermináveis de viagem, ver uma mulher de burca (só de olhos a descoberto) na zona de restauração que me deixou com tristeza e vontade de rir ao mesmo tempo… Ora, tinha colocado os meus pés há dois minutos em solo Kuwaitiano e as diferenças culturais (enormes diferenças) já se faziam sentir na minha atitude ignorante.
Os Kuwaitianos adoram comunicar com Europeus ou Americanos. Falam alegremente das suas férias à Europa (Espanha é o destino predilecto) ou dos tempos de estudante em Inglaterra ou EUA. Isto faz com que não sintamos o choque cultural com tanta agressividade, pois eles têm um estilo de Vida Árabe com toques Ocidentais.
Existem dois “tipos” de Kuwaitianos: os Bedus, provenientes do deserto (mais tradicionais) e os Hadvar, acostumados às lides do mar (mais liberais). Esta diferenciação vê-se claramente nas vestimentas das mulheres. As das famílias mais tradicionais vestem-se com Abaya ou, em regra, com burca. Os homens não lhes devem dirigir a palavra, olhar nos olhos e muito menos tocar-lhes! Claro que eu e o meu colega Tuga – enquanto Europeus – não nos regíamos por estes comportamentos culturais. Se tivéssemos de falar com elas, falávamos e ponto final sempre olhando-lhes nos olhos. Recordo-me num dos dias, uma mulher dirigir-se a mim para entregar a roupa que o marido iria comprar (ele estava no provador) e, sem querer, toquei-lhe nas mãos. A mulher rapidamente tira as mãos da roupa e afasta-se (como se algo de “nojento” tivesse acontecido). Digamos que eu também fiquei constrangido com a situação… Por sua vez, as mulheres das famílias mais liberais vestem roupas “normais” de grandes marcas (parece que vão para uma Gala dos Óscares em Hollywood) com lenço na cabeça ou mesmo com o cabelo a descoberto.

(continua...)

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