sexta-feira, 27 de julho de 2012

Jejum religioso: para quem?


Há cerca de uma semana, deu-se início ao mês do Ramadão para os seguidores do Islamismo. Com ele, os hábitos e costumes das populações alterou-se drasticamente: a imposição do jejum durante o dia, a oração constante, a leitura do Corão de forma mais acentuada, a pacificação de situações anteriormente densas e conflituosas, a comunhão familiar, etc.

Um dos pilares do Ramadão é, como genericamente se sabe, a prática do jejum (não comer nem beber nada durante todo o dia). Mas quem deverá cumprir esta submissão religiosa?

De forma geral, esta deverá ser praticada por todos os Muçulmanos, mas com excepções. Estas excepções abrangem: doentes crónicos (por exemplo, diabéticos), pessoas com debilidade física e/ou mental, pessoas doentes temporariamente durante este período, grávidas e mulheres lactantes (as mulheres grávidas não são uma excepção à partida, esta deverá ser indicada pelo médico que acompanha a gravidez) e crianças e jovens.

Sendo que as crianças e os jovens encontram-se fora desta obrigação, quando deverão iniciar o jejum religioso? Nada mais simples, com o início da puberdade. No ano em que um dos jovens inicia o jejum pela primeira vez, o Ramadão desse ano em concreto transforma-se num momento muito especial para toda a família.

Já no que toca às pessoas que não poderem cumprir o jejum durante o mês do Ramadão devido a questões de saúde ou de maternidade deverão fazê-lo mais tarde quando a sua enfermidade terminar ou existir indicação médica nesse sentido. Porém o que acontecerá aos prevaricadores do jejum religioso sem motivos de saúde que o justifique? Vejam a resposta em breve numa das publicações vindouras…

Para concluir, o jejum religioso deverá ser respeitado por todos os Muçulmanos de preferência no mês do Ramadão, mas, caso não apresentem condições de saúde para tal, deverá ser seguido necessariamente mais tarde. 

Ate breve!

domingo, 22 de julho de 2012

Características do Ramadão


 Umas das características genericamente conhecidas em todo o Mundo sobre o Ramadão limita-se ao facto de os Muçulmanos só poderem comer e beber durante a noite, tendo, assim, de jejuar durante o dia. Digamos que esta perspectiva não está errada mas é deveras limitada. O que significa o Ramadão para além do jejum?

Há cerca de uma semana, em conversa com um dos meus amigos Kuwaitiano, fiquei a conhecer a abrangência e sobretudo a simbologia do Ramadão de acordo com os princípios religiosos dos praticantes. Neste sentido, pode-se seleccionar cerca de quatro características/princípios da prática do Ramadão:

- Religioso/espiritual: a prática do jejum significa, na sua essência, a submissão a Deus. Este é um período de grande intensidade religiosa onde os Muçulmanos (só alguns deles, nomeadamente aqueles que vivem a religião de forma mais intensa) passam grande parte do dia/noite a orar, a ler o Corão e a dedicar-se a Deus.

- Social: o mês do Ramadão é um período por excelência para colocar de parte algum conflito familiar ou com vizinhos de parte. É uma espécie de interrupção de questões discordantes entre as pessoas. Terminado o Ramadão, estes conflitos poderão continuar como antes, mas em regra cessam mesmo!

- Físico: os Muçulmanos acreditam que a prática do jejum (não ingerir nada, mesmo nada, durante todo o dia) origina uma limpeza física/orgânica de todo o sistema digestivo. Este reage positivamente ao jejum e inicia, assim, uma espécie de auto limpeza e eliminação de resíduos tóxicos, gorduras, etc de todo o aparelho digestivo.

- “Direitos Humanos” (foi assim que me transmitiram este princípio): o facto de passarem fome faz com que todas as pessoas, independentemente sejam ricas ou não, sintam fisicamente o que as pessoas pobres passam durante todo o ano. É uma espécie de lição moral sobre os bens materiais.

Resumidamente, estas (e outras) são as crenças que orientam os Muçulmanos na sua demanda religiosa durante o Ramadão e pelo enorme respeito e submissão (na minha perspectiva, medo) que têm perante Deus.

NOTA: mais uma vez, tudo o que se encontra aqui escrito foi-me verbalizado por um Muçulmano praticante. A sua veracidade científica não foi alvo de pesquisa (e não é isso que se pretende neste momento).

Até breve!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Chegou o Ramadão!


 Após vários meses vividos no Médio Oriente, chegou um dos períodos por mim muito aguardado: o Ramadão! Muito se ouve falar desta característica fundamental do Islamismo, porém quando se vive num país esmagadoramente Muçulmano começamos a tomar consciência (começamos a aprender!) que este período tem uma simbologia muito mais abrangente do que “passar fome” como ignorantemente se afirma.

Hoje é o dia em que efectivamente o Ramadão começou. Mas, será que já sabíamos à priori que se iniciava mesmo a 20 de julho? Não! Até ontem à tarde não se tinha a certeza do início exacto do Ramadão, pois poderia começar a 20 ou a 21 de julho. Por quê? Tudo devido à Lua! Esta religião baseia-se sobretudo na posição da Lua e do Sol (irei escrever sobre a relação da Lua com esta religião em breve; assunto muito curioso!), logo, só ontem à noite e de acordo com a visualização do início da lua quarto crescente se concluiu que o Ramadão teria início no presente dia.

«Ramadão», em primeiro lugar, é o nome de um dos meses do calendário lunar Muçulmano (no Kuwait, o calendário gregoriano é utilizado como referência geral sendo o calendário islâmico utilizado, sobretudo, para questões religiosas). Com o início deste mês, adivinha-se um período muito especial de intensa actividade e comunhão espiritual e de harmonia com todos os cidadãos.

Uma das regras fundamentais do Ramadão é não ingerir nada (sólido ou liquido) durante a maior parte do dia (não, não é durante toda a noite que o jejum cessa; há um determinado período!). Isto significa que não podem comer, beber (nem sequer água!), fumar, mascar pastilha, etc…

Para os não religiosos ou para os seguidores de outras religiões ou livre pensadores a proibição também se lhes aplica! Claro que poderão fazê-lo mas sempre dentro de casa! Caso contrário e se forem apanhados pagam uma determinada multa e são mesmo presos independentemente da confissão religiosa ou nacionalidade.

Durante o Ramadão vou apresentar várias características deste período e de algumas situações que poderei presenciar in loco.

Até breve!

NOTA: tudo o que escrevo e irei escrever sobre o Ramadão foi-me ensinado directamente por Muçulmanos praticantes!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os Muçulmanos e a tese sobre a carne de Porco


 Como é amplamente sabido, os Muçulmanos são um dos seguidores religiosos que não ingerem carne de Porco e seus derivados. Dentro deles, verifica-se também a sua abstinência noutras religiões: Judaica e Adventista do Sétimo Dia (outras religiões fomentam o vegetarianismo).

De acordo com os meus colegas de trabalho (Muçulmanos), o motivo de não consumirem este animal limita-se, numa primeira visão, ao facto de o Corão indicar que o Porco é um animal sujo. Não obstante, mais recentemente fiquei a saber que outra razão seria o facto de provocar mau odor corporal aos seus consumidores (segundo esta perspectiva, o mau odor de várias Portugueses está explicado…).

Para complementar esta tese, tive obrigatoriamente de ler alguns artigos sobre o assunto.
Em primeira instância, o argumento de provocar mau odor corporal não está descrito em nenhum dos documentos que li. Em relação à sujidade do Porco e para quem já os viu na sua actividade natural, não deixa de ser verdade. Porém, nada como uma boa lavagem para que o “problema” se resolva.

Todavia…

Vamos ler a seguinte citação:
« e o porco, porque tem a unha fendida, de sorte que se divide em duas, mas não rumina, esse vos será imundo» Levítico 11:7 do Antigo Testamento
Vendo bem as coisas de forma imparcial, no livro sagrado dos Católicos também existem passagens a falar do que se deve e não se deve comer no qual a carne de Porco é uma das que se deveriam evitar.

Religião, teses, fundamentalismos ou imposições religiosas à parte, uma coisa é certa: a carne de Porco é uma da principais causas de transmissão de doenças parasitais na alimentação humana (em comparação com outros animais consumidos) sente este um dos argumentos que por ventura fizeram com que os Muçulmanos tomassem a atitude de a eliminarem da sua dieta alimentar [tendo em conta que há centenas de anos atrás, a inexistência de antibióticos faziam com que este género de infecção fosse inevitavelmente mortal em casos agudos].

Exposta toda esta informação de forma claramente resumida, dou a conhecer o meu caso pessoal: passo meses e meses sem tocar num único derivante de Porco  (pelo facto de não existir no Kuwait) e sinto-me lindamente! É verdade que esporadicamente sinto vontade de comer uma bela bifana, mas não é pelo facto de ser carne de Porco, sim pelo seu sabor!

Qual é a vossa opinião sobre tudo isto?

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Carinha laroca


Hoje, ao fim de passar  um mês sem escrever nada, arranjei um tempinho para limpar as teias a este espaço.

Fiz há poucos dias 10 meses que estou a viver no Kuwait. Calculo que hajam algumas pessoas que estarão a ler este texto e a pensar: “porquê que este gajo está sempre a contabilizar o tempo que está fora de Portugal?”. Bem, a minha resposta é simples: um dia se viverem fora do nosso país, perceberão o motivo…

Agora e como prometido, vou descrever a sessão de limpeza facial que vivi há algumas semanas.

Semanalmente, vou a um barbeiro junto de minha casa para aparar a barba e cortar o cabelo se necessário. Um dia, ele perguntou-me se queria fazer algo à cara. Bem, tenho de fazer uma ressalva: o inglês do barbeiro é limitado. Eu, por tanta pressão que me fez, aceitei! Levaram-me para uma sala particular com um enorme plasma, passaram-me o comando para a mão e deu-se inicio ao tratamento: colocou-se inicialmente um creme bastante refrescante na cara enquanto uma máquina disposta ao meu lado ia libertando vapor de água para esta. Ao fim de uns minutos, retirou-se o creme e apontou um aparelho que lançava uma espécie de micro choques pela face (parecia aquelas “raquetes” para matar moscas e mosquitos com choque). De seguida, mais um creme refrescante com aroma a menta, mas, desta vez, azul… passados mais uns 10 minutos, retirou-me o creme e começou a tirar os pêlos da cara com a mesma técnica que é utilizada para delinear as sobrancelhas com linha de “costura”. Nunca pensei que aquela técnica também era conhecida por terras Árabes… Por fim, mais um creme e saí do barbeiro com carinha de bebé!


O curioso em toda esta história é o facto de num país Muçulmano onde tudo é supostamente muito “Macho” devido às imposições culturais/religiosas, estas práticas de retoques de beleza em homens ser bastante comum (há homens que levam horas em salões de beleza! Bem, também não fazem mais nada na Vida…). Já em Portugal, um país supostamente “livre”, estes comportamentos são encarados como algo (só) para mulheres e visto como um momento de gozo quando feito em homens.

Espero que comece a obter mais tempo livre, para puder escrever com maior frequência neste espaço.
Fico a aguardar perguntas e sugestões!

Obrigado por tudo!