domingo, 4 de dezembro de 2011

À conquista do Mundo - Kuwait XIV

Nem todos os dias são monótonos e stressantes! [24 de Novembro de 2011]

Apesar de já ter passado algum tempo, vou contar o fantástico – e muito curioso – dia que passei para realizar o meu “Civil ID”.

Antes de tudo, tenho de explicar o que é isto de “Civil ID”. Bem, é nada mais, nada menos do que o meu visco comercial prolongado (de um ano, renovável). No Kuwait, para ser-nos dado (ou vendido) o visto comercial temos de fazer uma espécie de cartão de identificação civil.

Passei este dia constantemente acompanhado pelo meu “sponsor” (pessoa que é “responsável” por nós enquanto vivemos no Kuwait; claro que ele é pago para fazer este trabalho).

Vamos, então, à aventura:

Comecei o dia à procura de uma loja de fotografias pois precisava de 12 fotos tipo passe (sim, 12!) para tratar de toda a papelada para o meu Civil ID. De seguida, dirigimo-nos para um grande edifício público onde estão representados parte dos ministérios do Kuwait para renovar, primeiramente, o meu visto comercial temporário. Este edifício é tão simples e funcional quanto isto: vamos a um Ministério para tratar de um papel, mas depois precisamos de um outro documento de um diferente Ministério. O que se faz? É fácil, sai-se de uma sala (Ministério “A”) para a sala do lado (Ministério “B”). Digamos que é uma espécie de “Loja do Cidadão” de Ministérios. Ai, tanto tempo que se pouparia para tratar de alguns documentos/licenças/registos em Portugal, não é?!

Terminada esta renovação do visto, iniciamos o processo do meu visto comercial de longo prazo. Deslocamo-nos, então, a um local para preencher os documentos à máquina de escrever. Bem, este local é no mínimo nascido de um filme! Ainda na rua, temos lojas de brinquedos (nunca tinha visto tanta bicicleta junta!!!) de um lado e, do outro, uma espécie de oficina onde estavam dois homens a reparar uma motorizada. Entramos e quem é que preenchia os papeis à máquina? Uma mulher de burca (só com os olhos a descoberto: leiam a minha nota “À conquista do Mundo - Kuwait IX”  sobre o assunto)! Nunca tinha visto uma mulher de burca a trabalhar…

Ainda de “boca aberta”, subi para o segundo piso deste edifício. Então não é que, naquele edifício sem cor, sujo, com homens sentados à porta como se pedissem esmola no meio de lixo aqui e ali, é onde se realiza a digitalização das impressões digitais?! Lá entrei, colocaram um número identificativo no meu passaporte e dirigiram-me a uma máquina (uma espécie de máquina que é utilizada em Portugal para a realização do Cartão de Cidadão). Quem é que nos atende? Um polícia (digamos, que este deve ter a minha idade mas tem cara de poucos amigos…). Preparei-me para tirar uma foto (preparei-me nada! Quando me apercebi já estava!) e lá coloquei os dedos numa espécie de scanner. Então não é que já não bastava estar a levar com um policia sisudo, a máquina não conseguia ler as minha impressões digitais?! Tentamos, tentamos,… até que o polícia colocou pó de talco nas minhas mãos e a máquina consegui finalmente “ler os meus dedos”.

Saímos deste local e fomos para outra zona da cidade. Estacionamos o carro num parque de estacionamento térreo e dirigimo-nos para uma zona concreta deste parque. Até que, de repente, aparece um mini bus branco e o meu sponsor disse-me para entrar. Cumprimentamos as pessoas “Salame”, sentamo-nos e ao fim de 2 minutos já estávamos a sair deste transporte e a entrar num enorme edifício público.

Mais uma situação que me deixou de boca aberta: o Estado do Kuwait disponibiliza autocarros – gratuitos! – que transportam as pessoas dos parques de estacionamento a este grande edifício público! Mais, estes autocarros estão sempre a passar (de 5 em 5 minutos) e os parques de estacionamento ficam a uns 500 metros de distância! Só aqui vê-se a diferença entre os países ricos e os outros…

Chegados ao edifício público – que também congrega vários Ministérios, mas, neste caso, serve para tratar de assuntos mais importantes -  fomos logo revistados à entrada. Tratamos do que tínhamos a tratar e… “pray time”. Mais uma situação que não estava à espera: existe, no meio do edifício, uma zona para rezar. Como que numa espécie de corredor de passagem, existem uns tapetes colocados simetricamente no chão e as pessoas rezam ali. Sentei-me num banco ali perto enquanto o meu sponsor rezava (leva cerca de 5 minutos) e fui observando como eles rezam (é uma excelente oportunidade para observar as suas rezas pois ainda não sei até que ponto poderei entrar numa mesquita). Bem, resumidamente aquelas histórias de que eles “espetam o rabo” para rezar não são bem assim (de futuro hei de falar sobre o assunto noutra nota).

Terminada esta corrida entre edifícios públicos, fomos almoçar. Comi num restaurante Indiano – a melhor comida de sempre alguma vez digerida no Kuwait – cujas mesas estão colocadas dentro de compartimentos isoladas umas das outras, ou seja, ninguém vê quem está nas outras mesas do restaurante (é bom para almoçar com as namoradas, segundo o meu sponsor, pois é proibido manifestar alguma intimidade em público, assim, naquele espaço, pode-se comer e… “comer”).

Terminada a refeição, fomos a um coffee Shop. Que coisa mais… Nem sei dar uma caracterização concreta de tão assustador que aquilo era. Basicamente “aquilo” era um espaço escuro, com nuvens de tabaco por todo o lado, com sofás sujos e rotos e as empregadas pareciam que vendiam de tudo um pouco inclusive o seu próprio corpo… O meu sponsor bebeu um sumo e fumou shisha e eu pedi um café. Bem, directamente não sei se aquilo era café ou veneno para ratos… intragável! Aquela especialidade que me deram era um turquish coffee que sabe muito, muito mal (já sabem, nunca peçam um “café turco” mas sim um café expresso!).

Saímos e fomos concluir o processo do meu Civil ID: recolha de sangue e raio-X ao tórax (para ser-nos dado o visto comercial prolongado, não podemos ter DST nem tuberculose). Fiz a colheita de sangue num lado e o raio-X noutro ponto da cidade. A recolha de sangue foi perfeitamente regular mas o raio-X… parecíamos uma vara de porcos em fila à espera de vez para a matança: puff, next, puff, next, puff, next

E, pronto, encontro-me, agora, a aguardar pelos resultados dos exames para finalizar o meu processo.

Foi um dia muito longo, andei de um lado para o outro, mas deu para conhecer sítios que não tinha visitado e aumentei o meu conhecimento da cultura deste país. Se gostei deste dia? ADOREI!

Até à próxima aventura! =)


 
Uma pequena amostra da enorme quantidade de bicicletas que estavam à entrada do edifício onde se realiza a digitalização das impressões digitais.

 
Após um longo dia "sem parar", somos presenteados por este lindo pôr do sol!

Sem comentários:

Enviar um comentário