Ontem não foi um dia nada feliz no seio da minha família. Este acontecimento pôs-me, novamente, a reflectir sobre o assunto: Nascer-Viver-Morrer. Digo-vos, desde já, que tenho uma perspectiva sobre o assunto completamente díspar em relação à Cultura Portuguesa / à Educação Religiosa Católica Apostólica Romana.
Passamos a nossa Infância a receber, de alguma forma, seja a nossa família Católica praticante/semi-praticante/descrente, educação e formação religiosa onde é-nos transmitido a Paixão de Cristo, o seu sacrifício pelos seus “Irmãos”, a sua dolorosa morte e o seu ressuscitamento. Quando iniciamos o capítulo da morte e da ressurreição, o que a “nossa” religião/cultura nos ensina? Depois de partirmos deste Mundo e se formos pessoas de bem iremos passar a Eternidade no Paraíso (onde o Amor, a Paz, a Alegria, a Felicidade, … reinam) junto dos nossos familiares /amigos e junto dos nossos Anjos, Deuses e do Criador.
Posto isto, o por quê da tremenda tristeza quando algum Familiar ou amigo “parte deste Mundo para o Paraíso”? Algumas pessoas irão responder: porque ficamos com saudades; nunca mais o/a vou ver; ele/ela não merecia; ele/ela faz-me falta ou irão simplesmente responder “eu não quero que isto aconteça” (em negação pelos acontecimentos).
Vamos então reflectir: se o nosso familiar ou amigo partiu em direcção ao Paraíso, vai estar em Paz pela toda Eternidade (não costumamos dizer “descanse em Paz”?!) junto de todos os outros familiares que entretanto “já partiram” enquanto aguardam - um dia - por “nós”, este sentimento de tristeza provém de onde ou do quê? Por um lado, temos – sem dúvida – medo da Morte! Nós – Seres Humanos – temos medo do desconhecido e a Morte é para a maioria das pessoas desconhecida. Por outro, os sentimentos de ter “saudades”, “nunca mais o/a vou ver”, “faz-me falta”, etc são sentimentos egoístas, ou seja, provenientes de dentro de nós que têm como finalidade o nosso bem-estar, a nossa “recuperação” psicológica. Basicamente é o apego que adquirimos em relação àquela imagem/pessoa, como se aquele Ser fosse “nosso”, fosse nossa “propriedade”. Afinal de contas, este sentimento de apego prende-nos… Coloquemos de lado estas “correntes” que nos prendem…!
A cerimónia de enterro, de acordo com a cultura Portuguesa (e de muitos países) dá muito que pensar… Não irei falar, outra vez, da Tristeza que banha este ritual (estarmos tristes por o nosso familiar/amigo ter partido em direcção ao Paraíso?!). Em primeiro lugar, parte significativa das pessoas que conheço têm medo dos cemitérios, que já mais entrariam nestes espaços de noite e muito menos sozinhas! Depois, nestes lugares encontramos sempre pessoas tristes, a chorar ou mesmo a gritar. Já pensaram na enorme carga pesada e negativa que paira naqueles espaços? Se temos medo de cemitérios, o porquê de colocarmos o nosso familiares/amigos naqueles sítios que assustam…? Cá está mais um grande contra-senso da nossa cultura…
Após o enterro, passamos os dias seguintes (meses, anos, …) a colocar flores e velas na campa do nosso ente querido. Para quê? Então o nosso familiar/amigo já não se encontra no Paraíso?! Já não está naquele local… Melhor, o que se encontra naquele local é o corpo físico ou o que ainda resta dele… Se querem um conselho, façam um pequeno altar em algum cantinho de vossas casas e acendam uma vela e coloquem flores em memória dos vossos entes queridos ou façam-no em alguma Igreja e aproveitem para agradecer por tudo o que aprenderam e por todos os momentos da Vida em conjunto. Será muito mais “saudável” para todos e todas!
Para concluir, pois este texto já está muito grande, já pararam 5 minutos para pensar/reflectir no que gostariam que acontecesse após a vossa Morte? Acredito que não pois ela assusta-nos, não é? Mas é um bom exercício que deveríamos “oferecer” a nós próprios. Eu, que sigo a filosofia de Vida de “fazer aos outros o que gostaria que fizessem a mim”, não posso estar triste nesta altura (apesar de alguma lágrima teimosa caia). Quando o meu corpo físico morrer - pois nós, a nossa verdadeira essência nunca “morre” - queria que encarassem aquela partida como um “até já”, como um finalizar de um ciclo para iniciar outro; nada de tristezas, nada de lutos, nada de enterros, mas um “sim” à cremação e seu depósito no mar, um “sim” ao sentimento guardado no coração de cada um de vós, pois não é pela quantidade de flores que “medimos” o nosso sentimento… Que seja «uma flor que perdemos do nosso Jardim, mas o seu perfume permanece internamente no nosso coração»
Para ti… Obrigado por tudo o que me ensinaste, obrigado pelos momentos Alegres que me permitiste, obrigado pelas situações mais tensas que me fizeram crescer… Sei que agora segues para um ciclo “muito melhor”… Resumidamente: Muito Obrigado!
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